JUNG: O Homem Criativo

28-09-2024

O fundador da Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung (1875 - 1961), desde a infância já apresentava sinais de uma busca constante pela compreensão do “desconhecido”. Em suas próprias experiências pessoais já vivenciava o seu mundo simbólico profundamente. Sua característica introvertida/ tipo psicológico introvertido, facilitava cada vez mais esse contato intenso e profundo consigo mesmo. Depois da sua formação em medicina, sua atuação médica como assistente de Eugen Bleuler, a diretoria do Hospital de Burgholzli, seu contato direto com Freud e o posterior “abandono” do seu caminho como “Príncipe da Psicanálise”; Jung sentia cada vez mais necessidade de “desbravar o mundo interior”, a Psique humana.

Em 12/12/1913, dias antes do sonho: o “assassinato de Siegfried” (sonho que simbolizava a separação entre Jung e Freud), Jung decide iniciar seu confronto com o inconsciente. Essa “descida ao inconsciente” ocorreu através de uma visão quando ele estava sentado em seu escritório. Após essa primeira visão, Jung passou a fazer “descidas” mais profundas e uma das figuras mais importantes e presente nesses encontros com o inconsciente foi Filemon, que se tornou uma espécie de “guru” para ele. “Graças aos diálogos com Filemon, Jung chegou à conclusão que existe uma realidade psíquica objetiva. Que há na alma muitas coisas que não são fabricadas pelo eu, mas que tem vida própria e se fazem por si mesmas independentes da nossa vontade, aparecem como “personagens da nossa imaginação” (L.P. Grinberg, Jung O homem Criativo, p.41).

A figura feminina da Anima foi uma das “personagens da imaginação”, funcionando como “mensageira” que leva a consciência imagens do inconsciente. Assim como a Anima, existe a figura masculina do Animus e a ambas Jung referiu-se como figuras arquetípicas da psique. Figuras essas que se encontram nas mais profundas camadas do inconsciente, o inconsciente coletivo, território dos arquétipos. O entendimento desses processos para Jung transcendia a racionalização, o mais importante era “vivencial/ experiencial”.

Os confrontos com as imagens que se suscitavam, implicavam sacrifícios e mudanças por parte do eu.

Através dessas experiências, Jung chegou ao conceito de Self (espécie de centro regulador e coordenador da vida psíquica).

“Para Jung, o Si - mesmo é transcendente, o que significa que não é definido pelo domínio psíquico nem está contido nele, mas pelo contrário, situa-se além dele e, num importante sentido, define-o. Paradoxalmente o si-mesmo não se refere a si-mesmo. É mais que a subjetividade da pessoa, e sua essência situa-se além do domínio subjetivo. O Si-mesmo forma a base para o que no sujeito existe de comum com o mundo, as estruturas do Ser. No si-mesmo, o sujeito e objeto, ego e outro, juntam-se numa causa comum de estrutura e energia.” (Murray Stein – O Mapa da Alma, 2000, p.137).

O conceito de Self é fundamental na teoria junguiana.

Os acontecimentos da vida, sejam exteriores ou interiores são simbólicos e todas as experiências vividas tem como propósito “a busca pela realização da nossa totalidade como seres no mundo”, Jung chamou a essa busca de Processo de Individuação, que é a meta do desenvolvimento psíquico.

Com 43 anos de idade as “descidas ao inconsciente” diminuíram e Jung passou a organizar e elaborar tudo o que viveu. Concebeu a psicologia analítica dentro de uma visão holística, unindo corpo e mente, pois não existe divisão entre psique e matéria.

Durante toda a sua jornada em busca do entendimento do inconsciente, estruturando todo o seu pensamento sobre a criação/encontro com a sua obra e exaltando a importância dos conteúdos simbólicos – fantasias e sonhos – para o desenvolvimento saudável da psique, Jung encontrou “chaves preciosas” que complementam e ampliam seus conceitos, além de importantes influências que também a compuseram. Estudos sobre a religião, filosofia, gnosticismo e alquimia tiveram profunda relevância nesse caminho “desbravado”.

“Mas foi na alquimia que Jung encontrou raízes das suas ideias e a ponte entre o gnosticismo e a psicologia do inconsciente. Ele concebeu a alquimia como precursora da sua psicologia”. (L.P. Grinberg – Jung O Homem Criativo, p. 49). No manuscrito sobre a alquimia chinesa “O Segredo da Flor de Ouro” - um livro de vida chines, Jung encontrou a confirmação de suas reflexões e foi em 1929 que Wilhelm e Jung o publicaram.

O processo alquímico ou opus pode ser comparado ao processo psicoterápico. Assim como ocorre na alquimia, há uma transformação que se dá através da integração dos conteúdos que nos são “desconhecidos” e consequentemente o “equilíbrio entre opostos”. “No processo de realização da identidade profunda do indivíduo, os elementos conscientes e inconscientes reconciliam-se e são integrados na consciência, transformando a atitude do sujeito”. (L.P. Grinberg – Jung O Homem Criativo, p. 50).

Foi num período de profunda introspecção que Jung desenvolveu conceitos fundamentais que nos levam hoje a entender, vivenciar e ampliar a sua psicologia. Essa contribuição nos leva a eterna busca do autoconhecimento e é de fundamental importância para o desenvolvimento do trabalho psicoterápico.

“Minhas reflexões e pesquisas atingiram o ponto central da minha psicologia, isto é, a ideia de Self” (Jung, 1975: 183)

 

 Bibliografia:

GRINBERG, L.P. (2017).  Jung: O homem Criativo - São Paulo: Editora Blucher

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